sábado, 27 de setembro de 2008

Internet: Pais portugueses são os que menos conhecem o que fazem os filhos na internet - estudo europeu

Lisboa, 26 Set (Lusa) - Portugal é, a par da Polónia, o único em 21 países europeus onde os pais portugueses menos conhecem o que os seus filhos fazem on-line, segundo um estudo europeu a que a Lusa teve acesso.

O estudo comparado do Projecto Eu Kids Online, a apresentar sexta-feira no Luxemburgo, teve a participação de uma equipa portuguesa coordenada pela professora Cristina Ponte, da Universidade Nova de Lisboa.

A divulgação destes dados surge na semana em que o governo português distribuiu cerca de três mil computadores portáteis "Magalhães" a alunos do primeiro ciclo de Norte a Sul do país, com a garantia de que os equipamentos têm instalado um sistema que permite aos pais controlar sítios visitados pelos filhos.

Segundo o estudo, Portugal é também, a par da Polónia, o país onde as crianças e jovens portugueses utilizam mais as novas tecnologias do que os adultos, um dado que, segundo Cristina Ponte, revela uma necessidade urgente de formação tecnológica dos pais.

"Estes dados reclamam uma maior atenção das políticas públicas de promoção das tecnologias digitais, que forneçam informação para uso dos novos meios em segurança, nos lares, sob pena de se perpetuar o fosso digital entre gerações e entre crianças com diferentes recursos socioeconómicos", considera a investigadora.

Esta primeira tentativa sistemática de comparar resultados europeus sobre a experiência de crianças e jovens na Internet, financiada pela Comissão Europeia (Safer Internet Plus), permitiu também concluir que as crianças portuguesas acedem mais na escola do que em casa.

No entanto, a tendência é para o aumento do acesso em casa.

Estes dados reforçam resultados revelados por outros estudos recentes. O jornal Público divulgou um trabalho da investigadora Célia Quico, da Universidade Nova de Lisboa, onde era referido que os jovens portugueses já dão mais valor à Internet e ao telemóvel do que à televisão.

Segundo o estudo europeu do Projecto Eu Kids Online, os pais portugueses consideram que na Internet as crianças mais novas correm mais riscos do que as mais velhas e que as raparigas estão mais expostas a riscos do que os rapazes, uma percepção considerada pouco correcta, que "poderá decorrer de uma certa exclusão digital dos pais".

A pesquisa mostra que quanto maior é o acesso e o uso da Internet maiores são os riscos e as oportunidades. Ambos os sexos contactam com potencialidades e riscos na Internet.
A exclusão digital por parte dos pais em Portugal, que continuam a regular mais o contacto das crianças com a televisão do que com a Internet, está relacionada com a situação socioeconómica das famílias portuguesas, condicionada pela baixa escolaridade de mais de metade dos pais portugueses.

Nos países da Europa que participaram neste estudo (Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Dinamarca, Eslovénia, Espanha, Estónia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Islândia, Itália, Noruega, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa e Suécia), o uso da Internet aumenta com a idade, pelo menos até aos 12-15 anos, quando atinge o seu pico.

Este estudo internacional, liderado pela Professora Sonia Livingstone da London School of Economics, comparou mais de 250 estudos empíricos sobre a utilização da Internet e dos novos média por crianças e jovens até aos 18 anos em 19 países da União Europeia (Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Dinamarca, Eslovénia, Espanha, Estónia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Polónia, Portugal, República Checa, Suécia e Reino Unido) e em dois outros países fora desse espaço (Noruega e Islândia).

Foram caracterizados, para cada país participante, os acessos e usos do on-line por crianças e jovens (até 18 anos) e o ambiente nacional quanto à penetração e regulação dos média, os discursos públicos dominantes, as características do sistema educativo, a existência de uma educação para os média e as atitudes e valores culturais em geral e sobre as crianças em particular.

A comparação dos 21 países incidiu ainda sobre a mediação dos pais, indicadores como a idade e sexo da criança, a situação socioeconómica das famílias, as intervenções de professores e de pares.

Os dados comparativos sobre o uso da Internet por crianças, a percepção do risco e a mediação parental permitiram à equipa do EU Kids Online traçar uma paisagem europeia a diferentes velocidades quanto às diferentes posições de crianças e adolescentes em relação ao acesso e aos riscos e oportunidades on-line.

GC.
in Lusa

Sem comentários: