domingo, 28 de dezembro de 2008

É preciso intervir contra a indisciplina nas escolas

O caso tem alguns contornos distintos do ocorrido há nove meses na escola Carolina Michaëlis, mas no essencial o que ocorreu na Escola do Cerco é tão gravoso quanto o seu precedente.
Percebemos, mais uma vez, que o ambiente nas salas de aula portuguesas atingiu níveis de preocupante agressividade e impunidade. É urgente concertar uma posição entre professores, conselhos executivos, direcções regionais de Educação e Governo para fazer frente à crescente desobediência que lastra pelas escolas nacionais.
Além dos reprováveis actos que o vídeo documenta, a iniciativa de o divulgar através da Internet demonstra que os intervenientes não só se sentiram à vontade para ameaçar a professora em plena sala de aula, como fizeram questão de propagandear o seu lamentável comportamento. As reacções da professora, da presidente do Conselho Executivo, Ludovina Costa, e da directora regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, voltaram a parecer demasiado brandas para aquilo que um caso como este exige. Desvalorizando que um aluno aponte uma arma, mesmo que de plástico, a uma professora - como fez a docente -, omitindo que isso aconteceu e lamentar apenas a divulgação do caso - como fez Ludovina Costa - e reduzindo o episódio a "uma brincadeira de mau gosto" - como fez Margarida Moreira - corre-se o sério risco de as palavras soarem quase como que a um convite para que situações destas continuem a repetir-se pelas salas de aula.
O alerta vem do presidente da Cáritas portuguesa: estamos perante "uma crise sem precedentes" e "o pior ainda pode estar para vir em 2009". E a crueza dos factos apoia a dureza das palavras. Há mais gente a pedir apoio, desde aqueles que eram já carenciados e estão agora pior até àqueles pertencentes à classe média mas tão sobreendividados que não são já capazes de pagar as contas ao final do mês.
O panorama negro traçado pela Cáritas é reforçado pela Assistência Médica Internacional, que enfrentou este ano um aumento de 20% dos pedidos de auxílio. E também o Banco Alimentar dá conta de um aumento das pessoas necessitadas a quem acode, com 245 mil a pedirem apoio em 2008, mais 25 mil que em 2007. Tal como Eugénio Fonseca, da Cáritas, também Isabel Jonet, do Banco Alimentar, prevê que "2009 vai ser um ano ainda pior".
Perante alertas tão sérios, o pessimismo deve ser a última resposta. Portugal tem resistido melhor do que outros países aos efeitos da crise internacional. Da parte de quem governa, devem vir incentivos à dinamização da economia e medidas sociais que salvaguardem os mais frágeis. De todos os outros, exige-se maior produtividade, mais cautela na questão do endividamento e um espírito de solidariedade redobrado. É nas situações de crise que se testa a solidez das sociedades.

http://dn.sapo.pt/2008/12/26/editorial/e_preciso_intervir_contra_a_indiscip.html

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