terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Bullying nas escolas - Alunos tímidos e “diferentes” são os que mais sofrem

Medo, submissão, baixa da auto-estima, são algumas das consequências do bullying sentidas pelas vítimas. De acordo com a UNESCO, 25 a 50 por cento da classe estudantil portuguesa é vítima deste fenómeno, que inclui agressões, insultos, humilhações e provocações verbais de forma repetida e sistemática. Um problema social a que muitos preferem fechar os olhos.

As razões que motivam crianças e adolescentes a praticar bullying, que vai desde os maus tratos físicos aos insultos e que se caracteriza por ser persistentemente direccionado para a mesma pessoa., são várias. De acordo com o pedopsiquiatra João Hipólito, “uma das razões poderá ser a ausência de valores de respeito pelo outro, sobretudo, o mais fraco ou desprotegido”, ou simplesmente a “obtenção, por vias "fáceis" de acesso, quer a bens valorizados nessa sub-cultura, quer a "reconhecimento" nas "hierarquias informais"”, clarifica.

Os alunos mais fracos, mais tímidos, mais isolados, "mais diferentes", são, segundo o especialista, professor catedrático da Universidade Autónoma de Lisboa, normalmente, aqueles que mais sofrem de violência escolar. Enquanto que, os agressores são frequentemente aqueles “com dificuldades pessoais em respeitar limites e regras, eles mesmos ex-vítimas ou vítimas de abusos e violência noutros contextos, frequentemente carenciados ao nível afectivo, educativo e social, frequentemente ainda com baixos níveis de auto-estima”, refere.

As vítimas do bullying desenvolvem “um clima de ansiedade e medo, o desejo de evitar as situações, fugindo a elas, a submissão e a baixa da auto-estima”.

Embora, segundo dados da UNESCO, 25 a 50 por cento dos alunos portugueses sofram este fenómeno na pele, são poucas as medidas que algumas instituições tomam em relação ao problema. Para que a esse tipo de violência diminua é necessária uma actuação mais forte da escola, com regras específicas para casos de bullying.

O problema é que, muitas vezes, existe uma espécie de “pacto de silêncio”, no qual os agressores não confessam e as vítimas não se queixam. Algo que, para o psicoterapeuta é compreensível, se o "queixar-se" significar aumento da agressão. A melhor forma de contornar esta tendência é, através de “um bom e seguro relacionamento com "professores de referência" (mediadores) assim como a existência de linhas anónimas de apoio”, transmite o especialista.

Mas, os pais também têm um papel fundamental, “pela qualidade de relação que têm com os filhos devem poder ter acesso a esse tipo de informação imediatamente quando a situação começa, para pôr em acção medidas de protecção dos filhos”, explica João Hipólito. “Uma criança, que parece começar a desmotivar-se para o trabalho, a parecer mais triste, desmotivada para ir à escola ou para sair”. São estes os sinais de alerta aos quais a família deve estar atenta.

Há, no entanto, quem ainda veja estas acções como “coisas de miúdos, próprias da idade”, o que é preocupante. Para o docente da UAL, esta é apenas uma “resolução aparente”, é a política do “assobia e disfarça”. Isto acontece porque, “por vezes a noção que dar muita visibilidade a certos comportamentos inaceitáveis pode ser uma maneira, infelizmente, de os promover”, esclarece.

Na opinião de João Hipólito, embora as regras mais rígidas contra o bullying; a vídeo vigilância na escola e a polícia nos portões, poderem ser vistas como “medidas para remediar, ou reduzir o risco existente”, a melhor maneira, é “desenvolver medidas preventivas”. Estas medidas passam pela “formação de discentes, docentes, colaboradores da instituição e pais ou encarregados de educação, quer nesta problemática específica, quer na construção de "comunidades de aprendizagem" mais solidárias, partilhando valores de respeito, cooperação e aceitação das diferenças”, revela.
Por Vera Gomes (in O Setubalense)

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