sábado, 14 de fevereiro de 2009

Ciberbullying: quando a criança é o agressor

Em qualquer escola, sempre existiu aquele aluno que vira o centro das atenções pelos piores motivos. Só por ser gordinho, ou muito estudioso, ou muito tímido, ou por ter um nariz meio grande, ganhava apelidos pejorativos, tomava lanche sozinho, era perseguido na saída. Agora, as brincadeiras de mau gosto ganharam novas proporções. Às vezes, exageradas. Em vez de recreio e saída, os xingamentos podem vir a qualquer hora, por mensagem de celular, emails destinados a dezenas de colegas e até páginas de internet dedicadas ao coitado. Fotos digitais adulteradas são usadas para denegrir sua imagem, e mesmo a distância o efeito é instantâneo: em pouco tempo sabe-se lá quantos internautas já terão visto e repassado a ofensa? Isso é o chamado cyberbullying, uma das principais preocupações atuais de quem estuda o comportamento dos jovens na internet. Principalmente pela dificuldade que a vítima tem de se defender.

Há cerca de três anos, no Instituto Educacional Stagium, em Diadema (SP), uma aluna com autismo foi provocada de propósito por algumas colegas do 7º ano para que aparecesse "surtando" num vídeo. O vídeo, feito com uma câmera fotográfica (proibida na escola), foi publicado num blog dedicado a falar mal dela. Quando a direção da escola ficou sabendo, já tinha dado tempo de a classe inteira assistir ao vídeo na internet. A solução foi chamar os pais dos envolvidos para definir como os culpados seriam repreendidos. “A escola não poderia ficar isenta”, afirma a diretora, Sônia Costa Pereira. No fim, os alunos reconheceram o erro e se retrataram publicamente, usando o mesmo blog em que tinham publicado a ofensa. E ainda se engajaram, por sugestão da escola, em uma ação social no município, como medida socioeducativa.

César Munhoz, do Portal Educacional, afirma que novos meios de cometer assédio pela internet são descobertos a toda hora. Uma das modas é criar perfil falso no Orkut usando o nome e a foto de algum colega. Basta copiar a foto do perfil verdadeiro e colar num outro perfil, usando algumas informações verdadeiras para dar credibilidade, e fazer o diabo em nome dessa pessoa.
A "diversão" é acrescentar dados falsos que denigram a imagem do colega e usar o perfil dele para atacar publicamente outras pessoas da turma. Assim, várias vítimas são feitas ao mesmo tempo: os alvos das ofensas e seu suposto autor, que leva a culpa no lugar dos falsários. Quando a ofensa constitui crime, pode ser denunciada ao denunciar.org. As escolas têm poder limitado para interferir, pois não podem impor restrições ao que é feito do lado de fora de seus portões. Mas, como normalmente o bullying envolve colegas de classe, é fundamental que a escola participe da discussão. Trazer a questão para os estudantes analisarem juntos é uma forma de eles entenderem por que é que brincadeira tem limite. Segundo Andréa Jotta, da PUC, o serviço tem recebido muitos e-mails sobre esse tema. A principal dica para se livrar da perseguição é que a vítima não se isole. "Quando ela se fortalece, o bullying perde a graça”.
Por Francine Lima (in Negócios & Carreira)

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