quinta-feira, 26 de março de 2009

Bullying na primeira pessoa

Documentário "Alinha" revela testemunhos de cinco alunos que foram agredidos física ou psicologicamente. Curta-metragem em discurso directo chama a atenção para um problema vivido dentro e fora das escolas.

A apresentação do documentário "Alinha" recorre às estatísticas para mostrar a dimensão do problema. "Um em cada cinco jovens portugueses admite ter sido vítima de bullying". O aluno Manuel Guerra da Escola Secundária Artística António Arroio, de Lisboa, falou com cinco colegas e decidiu chamar a atenção para a questão através de registos na primeira pessoa. Catarina, Diogo, Francisco, Mário e Tiago contaram para a câmara os momentos menos bons por que passaram. "Alinha" tem um duplo sentido.
"Pode ser um alinhar de entrar no jogo da violência, ou a linha da vida de vários jovens que foram vítimas de bullying e que revelam as suas histórias, abrem segredos", adianta ao EDUCARE.PT. As escolas estão a requisitar o documentário e Manuel Guerra está satisfeito com o interesse". Estou aberto a este diálogo, disponível para ir às escolas para, eventualmente, mudar opiniões".
"Esta é a história de cinco jovens que abriram os seus mundos cheios de histórias de perseguições físicas e psicológicas, com a qual pretendo alertar para o bullying, um problema cada vez mais emergente na nossa sociedade", revelou Manuel Guerra, em declarações à agência Lusa.
Durante quatro meses, a câmara captou as angústias dos cinco estudantes, com 17 e 18 anos, vítimas de bullying, ou seja, de repetidas agressões físicas ou psicológicas por parte dos colegas da escola, quando frequentavam o 8.º e o 9.º anos de escolaridade. O documentário aproveita para lembrar que há uma linha de apoio que escuta estes casos, nas mãos da Associação Nacional de Professores (ANP).
Manuel Guerra, de 18 anos, decidiu filmar um tema que lhe é próximo. "Desde sempre fui confrontado com casos de colegas que eram alvo de violência física e psicológica, talvez por ter estudado sempre em escolas problemáticas, mas isso marcou-me muito e quando me foi proposto este trabalho pensei logo neste tema", disse à Lusa.
Colocar o dedo na ferida e mostrar como dar a volta por cima estão presentes nesse trabalho cinematográfico. "A ideia é dar estes jovens como exemplo de alguém que conseguiu lutar contra os colegas agressores, já que todos eles, hoje, têm uma vida completamente natural e ultrapassaram o problema", acrescentou.
Antes de avançar para as gravações, Manuel Guerra juntou várias peças de histórias diferentes, mas com pontos em comum. Catarina tinha sido vítima de cyberbullying, Diogo debateu-se com dificuldades de socialização, Tiago, Mário e Francisco tinham vivido na pele as consequências do bullying. "Depois de um processo de pesquisas e investigações, abordei-os directamente na escola e todos aceitaram voltar a essas histórias."
A nota de intenções, no blogue do documentário, abre o apetite para a curta-metragem e enquadra os objectivos. "Em todas as situações serão apresentadas as atitudes actuais. Mais do que tratar o passado, pretende-se mostrar as sequelas do presente. Como agem, o que fazem, com quem se dão e como vivem em casa, na rua e na escola, e sobretudo o que sentem." Os cinco alunos vítimas de bullying revelam o seu dia-a-dia, decalcam os pesadelos do passado, falam sobre as consequências no presente. Para chamar a atenção de uma situação que, sublinha-se, "já começa a atingir os próprios adultos, no local de trabalho." O documentário nasceu no âmbito da disciplina de Projecto e Tecnologias do curso de Comunicação Audiovisual e já estreou. A primeira apresentação foi projectada no Pavilhão Municipal do Moinho, em Corroios, no Seixal.
A curta-metragem de 15 minutos está já a ser solicitada por várias escolas do país e tem o apoio de instituições como a ANP e a Câmara do Seixal.
Por Sara R. Oliveira in www.educare.pt