domingo, 15 de março de 2009

Na 'Sanches' é tudo à cabeçada?

Num curto espaço de 27 dias, a Escola EB2,3 Dr. Francisco Sanches, no coração da cidade de Braga, foi notícia pelos piores motivos. No dia 9 de Fevereiro, pouco passava das 18 horas, um indivíduo agride à cabeçada um professor de Inglês daquela escola. O acto ocorreu à porta do estabelecimento de ensino, perante outros professores (pelo menos um), alguns alunos e auxiliares.
Pelos vistos, um adolescente do 5.º ano sentia-se 'injustiçado' e por isso queixou-se ao tio. Contas feitas, o problema foi resolvido com uma violenta cabeçada. O professor ainda está de baixa, o aluno foi transferido para a Escola EB2,3 de Lamaçães, o tio não sei.
Na passada segunda-feira, mais do mesmo. Um tio de outro aluno procurou o segurança da escola para ajustar contas com ele. Pelos relatos que li em vários órgãos de comunicação social, foi uma espécie de vingança pelo que o senhor tinha feito ao adolescente: moveu-lhe um processo por mau comportamento e o tio abriu-lhe a cabeça.
Em suma, as férias de Carnaval vieram atenuar o alvoroço que vai naquela escola. Ainda bem que durante 11 dias não houve aulas. Quatro sábados e outros tantos domingos, três dias para pôr a máscara e comer o cozido. Se assim não fosse, não sei se haveria mais alguma coisa para envergonhar a 'Sanches'.
Não me parece importante estar a falar da atitude dos agressores. Isso dispensa qualquer comentário. O que acho estranha é a atitude da Direcção Regional de Educação do Norte face a estes episódios. Não direi que nada fez. Porém, questiono a forma como estes conflitos são geridos. Até porque é pública alguma insatisfação por parte da DREN em os órgãos de comunicação social, principalmente o Correio do Minho, saberem detalhes sobre estes tristes assuntos, darem-lhes destaque.
Que posição pública tomou a DREN perante o cenário de uma escola, sede de agrupamento, ser notícia por constantes agressões à comunidade educativa? Que solidariedade pública demonstrou ao professor ou ao funcionário agredidos em horário de trabalho, na difícil missão de educar ou zelar pelo bom ambiente na escola? Que tenha visto ou ouvido, nada. Rigorosamente nada.
Pior que isso, é que naquela escola, apesar de muitos dizerem que estes são casos isolados, isso não é verdade. Conheço muitos alunos, professores e funcionários que podem confirmar o que digo. Não se queira tapar o sol com a peneira para acalmar as hostes. Só os professores sabem o que têm passado dentro das salas de aula. Partindo do princípio que todos erramos durante uma vida, importa analisar a forma como o próprio erro é gerido. E neste aspecto, parece-me que a DREN, o Ministério da Educação e os próprios políticos estão mais preocupados em que estes casos sejam abafados, evitando o alarmismo gera.Na gestão de mais estes dois casos apenas se regista um abaixo-assinado dos professores da EB2,3 Dr. Francisco Sanches, uma reunião da Comissão de Pais, a natural preocupação do presidente do Conselho Executivo e, claro, muito mal-estar na comunidade educativa.
O que pensam os encarregados de educação de tudo isto? O que vai na cabeça dos professores? E dos funcionários? As agressões físicas e verbais ocorrem com tanta frequência que vão chegar para todos. Ninguém se pode sentir excluído deste grupo de 'alvos' a cabecear.
Acredito que tenha havido alguma solidariedade por parte da DREN em relação às duas pessoas agredidas. Mas neste tipo de assuntos, que tanto mexem com a opinião pública, é necessária uma posição pública, mostrando uma clara união entre a comunidade educativa. É que as coisas aconteceram e nada foi dito. A presença da Polícia na escola é cada vez mais frequente. Ainda bem. Mas não há só uma escola em Braga. Os agentes não se podem virar apenas para um local.
A Francisco Sanches é uma escola problemática. Talvez não tenha sido boa ideia assumir novos projectos educativos, como a criação de turmas com alunos que deixaram a escola, que foram expulsos de outros estabelecimentos. É que os Cursos de Educação e Formação (CEF) acabam por perder parte da sua essência quando são frequentados por alunos que não querem ir à escola. Elogio a atitude da 'Sanches' em acolher estudantes que, por variados motivos, não continuaram o seu percurso de formação. No entanto, não acho justo que outros alunos sejam prejudicados por este conjunto de situações.
A distinção entre a comunidade escolar é errada. Um aluno dos CEF é igual a outro qualquer. No entanto, todos sabemos que a política do Ministério da Educação tem sido a promoção, a todo o custo, da ideia de que a escola é para todos. Isso é uma treta. Quem não quer estudar, então que vá trabalhar.
Há casos de alunos que, quase um ano depois de ter ido à escola pela última vez, regressa porque, se assim não fosse, o Rendimento de Inserção Social era cortado à sua família.
E já agora, a escola deverá ser um jardim aberto onde qualquer um entra e faz o que lhe apetece? É que com o andar da carruagem, o professor, auxiliar ou segurança (mais parece um estádio de futebol ou discoteca onde alguém tem que manter a ordem) vão receber uma visita inesperada no seu local de trabalho. O professor de Inglês só não foi agredido dentro da 'Sanches' porque, por mera sorte, não foi encontrado...
Não quero pensar que a 'minha' escola é uma bomba-relógio prestes a explodir. Talvez seja exagerada essa analogia. Mas com o ritmo dos acontecimentos, sou obrigado a concluir que a 'Sanches' já viveu dias mais prósperos, mais felizes, mais convidativos à aprendizagem.
Por Ricardo Miguel Vasconcelos in Correio do Minho