quarta-feira, 6 de maio de 2009

Prevenir a indisciplina

Eu sou professora de Português e História do 5.º e 6.º anos, é a primeira vez que estou a dar aulas. Iniciei em Fevereiro e quando cheguei à escola encontrei alunos completamente indisciplinados, uma vez que o anterior professor deles os deixou naquele estado. A partir daí comecei com eles um trabalho de melhoramento, o que é certo é que eles já estão melhor um pouco mas ainda se encontram com bastante indisciplina, muitos deles têm desinteresse total pelas disciplinas e não querem trabalhar. O que devo fazer para os cativar mais? Que atitudes devo ter para demonstrar mais autoridade?
Fátima Vieira
Li hoje (03/05/2009) uma interessante crónica de Daniel Sampaio, em que ele fala dos "meninos sem rosto", filhos da pobreza e de bairros degradados, que apenas frequentam as escolas porque a isso são obrigados. Fala-nos de respostas que deveriam contar para a diferença, passando por parcerias entre a escola e outras instituições, mas que são dificultadas pela burocratização e/ou pela falta de recursos. Refere como parceiros fundamentais as comissões de protecção de crianças e jovens, o Tribunal de Menores, os hospitais e centros de saúde (com PAFGAC - Projectos de Apoio à Criança e à Família). Termina a crónica desejando que seja dada atenção ao trabalho discreto que muitos profissionais vão desenvolvendo na procura (e na consecução) de respostas adequadas.De causas possíveis da indisciplina e de parcerias deste género, como uma das estratégias para as escolas lidarem com os problemas de indisciplina e outros, falei já noutros artigos, de que são exemplos Indisciplina e agressividade numa escola perto de si, Prevenir a indisciplina e Visitadores domiciliários.
Ficarei hoje, portanto, por algumas sugestões práticas para lidar com a indisciplina numa turma, que, como é óbvio, não são receitas. Penso que é necessário haver um bom conhecimento dos alunos que a compõem; a definição de regras, conjuntamente por professores e alunos, respeitando o regulamento interno; uniformidade de actuação dos professores; consistência na aplicação das regras e das consequências.
Conhecer bem cada estudante não é tarefa fácil quando se tem a cargo muitas turmas, com um número elevado de alunos. Contudo, para além da dificuldade de concentração que os professores cada vez notam mais nos jovens, acompanhada da existência de conversas paralelas entre eles, há, frequentemente, alunos que se destacam por comportamentos mais disruptivos. O que está por trás? Só uma relação que concilie firmeza a nível da exigência de cumprimento das regras e da realização do trabalho das aulas a par com o interesse e a aproximação a cada um dos alunos permitirá, ao professor, compreender isso. Embora normalmente caiba ao director de turma (DT) essa tarefa, outros docentes podem fazê-la, o que não significa ultrapassar o DT. Vai-se a ver e descobre-se que, atrás daquele aluno que fazia as maiores palhaçadas, está uma criança em sofrimento (pela separação dos pais, porque é alvo de violência doméstica, porque sofre de bullying, porque...), que apenas procura chamar a atenção. Olha-se para outro lado e descobre-se que a incapacidade de concentração de um aluno decorre de estar todo o dia sem comer por razões diversas. Noutra carteira da sala, verifica-se que a agitação do aluno advém de uma hiperactividade não diagnosticada e não tratada. Todos estes "meninos sem rosto", que podem nem sequer provir de meios pobres e degradados, vão ganhando forma, rosto e alma, e pedindo compreensão e afecto e que se olhe para os seus problemas de comportamento como consequências de outros problemas, que devem ser tratados na sala de aula, mas também fora, em colaboração com os pais ou outros técnicos/entidades. Esta é uma área que não pode ser descurada e da qual todo o grupo-turma beneficiará.
Falar sobre indisciplina e formas de a prevenir/combater é uma tarefa sem fim. No próximo artigo fornecerei mais algumas sugestões. E, como Daniel Sampaio, penso que é importante olhar para o trabalho silencioso que muitos profissionais (bons) fazem, sem esperar recompensas ou reconhecimentos numa avaliação que, de tão burocrática, não lhes daria tempo de repararem no rosto e na alma dos tais "meninos sem rosto". Esse "olhar" permitiria a troca de experiências e a aprendizagem e enriquecimento de todos, com benefício para os alunos.
Por Armanda Zenhas in www.educare.pt