segunda-feira, 22 de junho de 2009

Indisciplina nas escolas prejudica aulas

O Inquérito TALIS (Inquérito Internacional sobre ensino e aprendizagem) levado a cabo pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), com o apoio da Comissão Europeia, em escolas de 23 países diferentes, dá conta que três em cada cinco escolas alegam que o mau comportamento dos alunos prejudica o desenrolar da aula.

O TALIS apresenta pela primeira vez dados comparáveis à escala internacional sobre as condições de trabalho dos professores nas escolas de 23 países diferentes, incluindo Portugal.
Assim sendo, deste inquérito foram retiradas as conclusões que fazem parte do relatório intitulado "Criar ambientes de ensino e aprendizagem eficazes". Deste relatório verificamos que a maioria dos professores inquiridos afirmam que o mau comportamento dos alunos prejudica o desenrolar das aulas.

Deste modo, segundo os dados apurados pelo inquérito, constata-se que em média os professores passam 13% do tempo de aula a manter a ordem.
Na Estónia, Itália, República Eslovaca e na Espanha, mais de 70% de professores do 3º ciclo do ensino básico trabalham em escolas em que se refere que as perturbações na aula prejudicam o processo de ensino "em certa medida" ou "bastante".

Também se verifica que para além das perturbações na sala de aula, outros factores que prejudicam o ensino incluem o absentismo dos alunos (46%), a sua chegada tardia à aula (39%), o uso de linguagem vulgar e blasfema (37%) e a intimação ou ofensas verbais contra outros estudantes (35%).

Segundo o relatório, o inquérito "indica de um modo geral que os planificadores da educação poderiam fazer mais para apoiar os professores e melhorar o desempenho dos estudantes, se o público e os decisores políticos olhassem menos para o controlo dos recursos e dos conteúdos educativos e mais para os resultados da aprendizagem". De acordo com Sá Couto, professor de Filosofia em Ponta Delgada, estes dados revelam que "o ensino básico tem horas lectivas a mais. Pois, as crianças que entram às 8h30 e saem às 17h30 não conseguem ter uma atenção sistemática durante tantas horas". Desta forma, na sua opinião, "a indisciplina nas escolas surge devido ao excesso de permanência em aula ou em espírito de aula".

Relativamente à indisciplina nas salas de aula dos Açores, Sá Couto refere que este estudo reflecte o que se passa nas escolas açorianas, quer a nível da motivação dos professores, quer a nível da indisciplina e valores. Contudo, "nós como micro-sociedade que somos ainda conseguimos manter a disciplina na sala de aula", acrescenta o professor.

"Penso que a situação de indisciplina na Europa se vai inverter. Mas para isso, é necessário haver ordem e autoridade sem recorrer ao poder. Nós, professores, devemos usar o poder da palavra e não necessitar da palavra do poder", concluiu.

Por Rita Sousa / Rui Jorge Cabral in http://www.acorianooriental.pt/noticias/view/186951

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Concorreram 3286 - 1337 docentes para as escolas problemáticas

O primeiro concurso de colocação de professores organizado pelas escolas prioritárias conduziu à ocupação de 1337 das 1509 vagas disponibilizadas. Segundo os dados do Ministério da Educação, candidataram-se 3286 docentes aos lugares.
As escolas em territórios educativos de intervenção prioritária podem contratar professores directamente, definindo os perfis necessários, para “enfrentar as dificuldades existentes”, de modo a melhorar os resultados escolares e diminuir a violência, indisciplina e absentismo dos alunos.

Indisciplina ‘rouba’ 16 por cento da aula


Os professores portugueses são os segundos da Europa que mais tempo passam a impor disciplina na sala de aula. De acordo com os dados do Inquérito Internacional de Ensino e Aprendizagem, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em Portugal perde-se 16,1 por cento da aula a manter a ordem, o que corresponde a cerca de 15 minutos em cada bloco de 90 minutos de aula. Brasil (17,8%), Malásia (17,1) e Islândia (16,7) são os países nos quais esse valor é superior ao de Portugal. A média da OCDE é de 12,9 por cento.
Se se juntar as tarefas administrativas (8,2%), um professor português passa 24,3 por cento do tempo de aula sem estar, efectivamente, a ensinar. O mau comportamento (69,1%) e o absentismo (50,8%) dos alunos são os factores que os docentes portugueses mais associam ao insucesso escolar, valores acima da média dos países da OCDE, respectivamente, 60,2% e 45,8%. No lado oposto, está o ‘copianço’: 11,2 por cento dos professores portugueses consideram estar associado ao insucesso, enquanto a média da OCDE é de 20,9.

Maria José Viseu, da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação, diz que a necessidade de os professores imporem a ordem pode estar relacionada com a falta de concentração dos alunos. "As crianças e adolescentes não conseguem estar concentrados numa tarefa mais do que um determinado tempo. Os pais são responsáveis, mas não são os únicos. Há turmas com 40 alunos e os currículos das disciplinas não estão adaptados às motivações deles."

"MINISTÉRIO COM MEDIDAS CERTAS"

O Ministério da Educação considerou o diagnóstico feito pela OCDE semelhante ao por si realizado, que levou à implementação de um processo de avaliação dos professores. Valter Lemos, secretário de Estado da Educação, comentou ontem o documento, afirmando que as políticas do Governo estão no bom caminho: "Os dados do relatório da OCDE mostram que Portugal é um dos países onde o maior número de professores afirma não ter apreciação do seu trabalho para incentivo em termos de carreira. São diagnósticos que confirmam que as medidas tomadas pelo Ministério da Educação nestas áreas parecem estar na direcção certa."

Em relação à indisciplina, o secretário de Estado diz que "Portugal não está fora daquilo que é o normal na maior parte dos países", reconhecendo que "todos os países têm um nível de indisciplina bastante elevado e Portugal não é excepção".


OCDE DIZ QUE PORTUGAL É CASO PREOCUPANTE

A OCDE considera Portugal um caso "preocupante" para as "carreiras e vidas profissionais dos professores", devido à falta de um sistema de avaliação de desempenho dos docentes, aconselhando os países que não dispõem de sistemas de avaliação formalizados e generalizados a nível nacional a introduzi-los rapidamente.

A conclusão faz parte do relatório Inquérito Internacional de Ensino e Aprendizagem, que fez um estudo comparativo das condições de trabalho e do ambiente de ensino e aprendizagem em escolas de 23 países de todo o Mundo e que decorreu entre Março e Maio de 2003 e Março e Maio de 2008. Em cada país, foram seleccionadas para participar no estudo 200 escolas públicas e privadas com 3º Ciclo do Ensino Básico.




Um quarto das garotas que usam a internet já sofreram bullying, diz estudo

É impossível proteger os filhos de todos os tipos de violência que a internet pode oferecer. Uma pesquisa inglesa feita pelo site Girlguiding UK revelou que mais de um quarto das garotas que utilizam a grande rede já sofreram algum tipo de agressão ao navegarem pela rede.

Segundo o site da BCC , o estudo teve como base entrevistas com mil mulheres adolescentes entre 10 e 18 anos e constatou que 28% delas já sofreram bullying por email, mensageiro eletrônico ou pela internet, normalmente infligido por outra mulher, na maioria das vezes também jovem. Bullying é um termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo incapaz de se defender.

“Como a maior organização de proteção à mulher do Reino Unido, vemos que é nossa responsabilidade dar a essas moças a sabedoria e a auto-confiança para lidar com esses problemas que as preocupam”, declara Denise King, chefe executiva da Girlguiding UK em nota publicada no site InfoWorld .

King afirma que houve um aumento substancial do bullying e dos novos métodos utilizados pelos agressores e, justamente por isso, ressalta o quão sério é o problema. “Entretanto, também queremos salientar às meninas as habilidades de ser uma boa amiga. Isso é importante não apenas quando se é jovem, mas durante toda a vida”, diz. Por isso, além da pesquisa, o site Girlguiding UK lançou também um guia para que garotas e jovens saibam lidar com esse problema, noticiou o site Tech Radar .

As dicas básicas incluem não informar nenhum dado pessoal como endereço e telefone na internet; não responder a emails e mensagens com teor estranho e sempre mostrar qualquer coisa aos adultos; criar senhas seguras para os cadastros e contas de email e, obviamente, denunciar sempre que possível o cyber bullying.

Bullying passa a ser acompanhado por pediatras nos Estados Unidos

Na década de 1990, realizei exames físicos em um garoto da quinta ou sexta série da rede pública de ensino de Boston (Costa Leste dos EUA). Perguntei a ele qual era sua matéria preferida: ciências, definitivamente. Ele tinha ganhado um prêmio na feira de ciências e iria competir em uma feira com várias outras escolas.
O problema é que havia algumas crianças na escola perturbando-o diariamente por ele ter ganhado a feira de ciências. Ele era provocado, empurrado e, ocasionalmente, até agredido. A mãe do menino balançou a cabeça e se perguntou se a vida dele seria mais fácil se ele deixasse para lá essa coisa de feira de ciências.
O "bullying" (assédios e provocações) produz reações fortes e altamente pessoais. Eu me lembro do meu próprio sentimento de ofensa e identificação. Ali estava uma criança bastante inteligente, amante da ciência, possivelmente um futuro (insira aqui seu gênio favorito), atormentado por brutos. Isso foi o que fiz pelo meu paciente: aconselhei a mãe a telefonar para o professor e reclamar. Encorajei o menino a seguir com seu amor pela ciência. Essas são três coisas que eu sei que deveria ter feito: não contei à mãe que o bullying pode ser evitado, e que isso depende da escola. Não chamei o diretor ou sugeri que a mãe o fizesse. Não pensei um segundo sequer nos provocadores, e qual seria o prognóstico para a vida deles.

Contra os bullies
Nos últimos anos, pediatras e pesquisadores dos Estados Unidos têm dado aos bullies (provocadores) e suas vítimas a atenção que, há tempos, eles merecem – e recebem na Europa. Ultrapassamos a ideia de que "crianças são assim mesmo", de que o bullying é uma parte normal da infância ou o prelúdio de uma estratégia de vida de sucesso. Pesquisas descrevem riscos no longo prazo – não só para as vítimas, que podem ter mais tendência a sofrer de depressão e pensamentos suicidas, mas aos próprios provocadores, que têm menos probabilidade de concluir os estudos ou se manter no trabalho.
No mês que vem, a Academia Americana de Pediatria irá publicar a nova versão de uma diretriz oficial sobre o papel do pediatra na prevenção da violência entre os jovens. Pela primeira vez, haverá uma seção sobre o bullying – incluindo uma recomendação para que escolas adotem um modelo de prevenção, desenvolvido por Dan Olweus, professor e pesquisador de psicologia da Universidade de Bergen, Noruega. Ele foi o primeiro a estudar o fenômeno do bullying escolar na Escandinávia, na década de 1970.
Os programas, disse ele, "funcionam na esfera escolar, de classe e individual; eles combinam programas preventivos e lidam diretamente com as crianças identificadas como provocadoras, vítimas, ou ambos". Robert Sege, chefe do ambulatório de pediatria do Boston Medical Center e principal autor da nova diretriz, afirma que a abordagem de Olweus concentra a atenção no maior grupo de crianças, aquelas que observam a tudo.
"A genialidade de Olweus", disse ele, "é que ele consegue reverter a situação da escola. Assim, as outras crianças percebem que o provocador é alguém com problemas em controlar seu próprio comportamento, e a vítima é alguém a quem eles podem proteger". O outro autor, Joseph Wright, vice-presidente sênior do Children's National Medical Center, em Washington, e presidente do comitê da academia pediátrica de prevenção à violência, observa que um quarto de todas as crianças relata ter se envolvido em bullying, seja como provocador, seja como vítima. Proteger as crianças de lesões intencionais é uma tarefa central para pediatras, disse ele, e a "prevenção do bullying é um subconjunto dessa atividade".

Repetição
Por definição, o bullying envolve repetição. Uma criança é repetidamente alvo de provocações ou ataques físicos – ou, no caso do chamado bullying indireto (mais comum entre garotas), rumores e exclusão social. Para um programa antibullying de sucesso, a escola precisa entrevistar as crianças e descobrir os detalhes – onde e quando isso ocorre.
Mudanças estruturais podem ajudar a lidar com lugares vulneráveis – o cantinho do playground fora da vista, o portão de entrada da escola na hora da saída. Então, disse Sege, "ativar os observadores" significa mudar a cultura da escola; através de discussões em sala, encontro de pais e respostas consistentes a cada incidente, a escola deve transmitir a mensagem de que o bullying não será tolerado. O que eu devo perguntar na hora do check-up? Como vai a escola, quem são seus amigos, o que você faz no recreio? É importante abrir a porta, especialmente para as crianças na faixa etária mais provável para o bullying, para que vítimas e observadores não tenham medo de falar.
Os pais dessas crianças precisam ser motivados a exigir que as escolas ajam, e os pediatras provavelmente precisam estar prontos para falar com o diretor. Nós devemos acompanhar a criança, a fim de garantir que a situação melhore, além de verificar a saúde emocional dela e buscar ajuda, se necessário. E ajudar os provocadores, que também são, afinal, pacientes pediátricos? Alguns especialistas temem que as escolas simplesmente suspendam ou expulsem os agressores, sem prestar atenção a uma forma de ajudá-los e às suas famílias a aprender a viver de outra forma. "As políticas de tolerância zero das escolas distritais estão, basicamente, empurrando o problema para frente", disse Sege. "Temos de ser mais sofisticados."
A forma como entendemos o bullying mudou, e provavelmente mudará ainda mais. Por exemplo, nem mencionei o cyberbullying. No entanto, todos que trabalham com crianças precisam começar com a ideia de que o bullying tem consequências a longo prazo e é evitável. Eu ainda sentiria a mesma raiva, em nome do meu paciente vencedor da feira de ciências, mas agora eu vejo seu problema como uma questão pediátrica – e espero ser capaz de oferecer um pouco mais de ajuda, um pouco mais de acompanhamento, com base apropriada em pesquisas científicas.

domingo, 7 de junho de 2009

Pai entra no colégio e agride filho à frente dos colegas


Um aluno do Colégio das Sete Fontes, em Braga, foi agredido pelo pai no interior do estabelecimento de ensino. O encarregado de educação tinha ido buscar o menor, que fora suspenso por dois dias, depois de um acumular de vários casos de indisciplina em apenas uma semana. O caso acabou por colocar a descoberto a violência doméstica que terá estado na origem da separação dos pais da criança, cujo processo foi sinalizado à Comissão de Protecção de Menores de Braga.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Prevenir a indisciplina

Diria que quando a exigência do professor rima com afectividade e criatividade e quando o melhor lugar da escola para si é a sala de aula, ele conquista os alunos para um comportamento que, se não for bom, será, pelo menos, adequado.

No último artigo, em resposta a uma questão colocada por uma leitora, falei sobre indisciplina, referindo, entre outros aspectos, a importância da colaboração entre diferentes profissionais dentro da escola e da colaboração entre esta e outros parceiros a ela exteriores. Debrucei-me ainda sobre a importância de conhecer os motivos que estão por trás dos problemas de comportamento de uma turma ou de cada um dos alunos indisciplinados.
Aqui ficam algumas outras estratégias concretas, mais centradas na sala de aula, a utilizar pelos professores e ou escolas:
-Uniformidade de actuação do conselho de turma, baseada no debate sobre os problemas existentes e na definição de estratégias de resolução;
-É necessário haver coerência de actuação a nível do conselho de turma, sem pôr em causa a individualidade de cada professor e as características da área curricular que lecciona;
-Firmeza na aplicação das regras definidas e nas consequências, como já foi referido;
-Quando se promete, cumpre-se. Os alunos dizem continuamente que há professores que ameaçam mas não cumprem e, por isso, podem "abusar";
-Estabelecimento de contratos de comportamento (por exemplo, se o aluno tiver um comportamento adequado durante a semana, recebe um determinado número de pontos; quando atingir um número previamente definido, é-lhe dada uma recompensa simbólica, que ele valorize);
-Esta estratégia deve, no mínimo, envolver o aluno, os professores e o encarregado de educação;
-Ficha de registo de comportamentos;
-São definidos os principais comportamentos a alterar e a respeitar e, no fim de cada aula, o aluno faz a sua auto-avaliação numa ficha fornecida pelo DT/docente, assinando o professor ou não, conforme esteja de acordo ou em desacordo. Pode conjugar-se com a estratégia anterior, para o DT mais facilmente conhecer o comportamento geral do aluno durante cada semana e decidir se deve ou não atribuir-lhe pontos;
-Jogos de interacção social;
-A aula de Formação Cívica é um excelente espaço para a sua realização;
-Desenvolvimento da auto-estima de cada aluno;
-Muitas vezes os alunos com pior comportamento sentem-se alvo de constante pressão pela sua prestação negativa. Isto é de evitar, devendo ser reconhecidas as vitórias (mesmo que pequenas) que vão conseguindo alcançar. Há também jogos/actividades que visam valorizar os aspectos positivos de cada um;
-Aplicação de um sociograma;
-O sociograma permite conhecer as relações existentes entre os alunos da turma. Esse conhecimento ajuda a organizar pares/grupos de entreajuda para a integração na escola/turma, para o controlo e desenvolvimento de autocontrolo do comportamento nas aulas, para o incentivo à realização das tarefas nas aulas.
Neste artigo, pensei na turma que a nossa leitora refere como tendo problemas de comportamento que passam mais pela falta de concentração e pelas conversas paralelas e não tanto por problemas de comportamento de elevada gravidade. Tendo isto em conta, gostaria de referir que os alunos normalmente percebem quem os estima, conseguem julgar a (in)justiça dos "castigos" que lhe são aplicados, a coerência ou inconsistência da actuação do professor. Assim, esticam mais a corda ou deixam-na estar no sítio. Diria que quando a exigência do professor rima com afectividade e criatividade e quando o melhor lugar da escola para si é a sala de aula, ele conquista os alunos para um comportamento que, se não for bom, será, pelo menos, adequado, e para uma maior responsabilidade no cumprimento das tarefas escolares.

Pais com voto... Associações deixaram, definitivamente, a fase remediativa. Hoje, reivindicam e decidem

Um ano após o Decreto-Lei 75/2008 - que aprofunda a garantia da participação dos pais nos orgãos de direcção das escolas -, as associações de pais relembram o quanto tudo mudou. Para melhor.

Foi longo o percurso das associações de pais até ao Decreto-Lei 75/2008. Com este, os pais passam a ser parte obrigatória na delineação de todo o projecto educativo de um país Qualquer decisão de fundo ao nível da Educação passará, a partir de agora, por eles. Pelos pais. Pelos primeiros e fundamentais educadores. Basicamente, este foi o decreto que criou, enfim, um orgão denominado Conselho Geral das Escolas. Cada agrupamento de escolas tem um.

"No Conselho Geral das Escolas, que reúne, no mínimo, três vezes por ano, têm assento os docentes, os autarcas, os pais e o pessoal de acção educativa. Os pais estão representados com quatro a seis elementos", pormenorizou Albino Almeida, presidente da CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais). Não sendo necessário alterar-se o projecto educativo de um agrupamento escolar com frequência, estas reuniões servem para decidirem as estratégias a implementar num curto prazo. Quando, no entanto, é preciso tomar umadecisões de fundo, os pais estão lá.

As associações de pais deixaram de resolver exclusivamenteos problemas das suas escolas para interagirem mais solidamente entre si e levarem ao Conselho Geral o que entendem ser as linhas estratégicas da Educação para o seu agrupamento.

"A soma de todos os projectos educativos são o Projecto Educativo do país", defendeu o presidente Albino Almeida.

O poder dos pais no universo escolar é cada vez maior. Se há uma década eram 800 as associações federadas na CONFAP, hoje são já 1875. Em pouco mais de 10 anos esta realidade duplicou.

Muito recentemente, foi criada uma outra confederação de pais (não de associações de pais) e encarreghados de educação. Ouseja, os pais, revendo-se ou não na CONFAP, que atingiu uma grande dimensão, reclamam intervenção organizada junto das escolas.

Uma participação crescente

Uma necessidade cada vez mais perceptível aos olhos dos sucessivos governos nos últimos 30 anos, mas que, curiosamente, não partiu exclusivamente dos pais.

"Foram os colégios privados que, no ano de 1968, que foi um ano que abalou muito do que era a estrutura social até então, que decidiram envolver os pais na escola, temendo o pior. Já no ano de 1975, em plena altura das nacionalizações, os pais acabaram por funcionar como defesa a essa mesma nacionalização. É, então, em 1977 que é reconhecida, formalmente, para todas as escolas, a participação dos pais. Nesse mesmo ano sai a Lei 7/77 que reconhece a própria CONFAP", contextualiza Albino Almeida.

A partir daqui, as associações organizam-se nas escolas naquilo que foi durante muitos anos a fase remediativa. Ou seja, as associações estavam, fundamentalemnte, viradas para as condições físicas das escolas. E tudo virado para o 1º ciclo (antiga primária). Só em 1986 é que o cenário de altera. Surge o Decreto-Lei 46/86 que cria a Lei de bases do Sistema Educativo e são previstos nove anos de escolaridade. As associações viram-se, então, para as EB 2,3.

Entretanto, com o Decreto- Lei 372/90 alarga-se o papel destas associações ao ensino secundário. Sumariamente, com a crescente importância dos seu papel, passam da fase remediativa para a fase reivindicativa.

"Há agora um reconhecimento nacional que é justo. Os pais são os primeiros educadores e têm muita força", conclui.