sexta-feira, 15 de maio de 2009

As mulheres que perseguem mulheres no escritório


Pesquisa de instituto americano mostra que 40% dos profissionais agressivos são mulheres e que, em 70% dos casos, elas preferem atacar outras mulheres

Os homens começaram perdendo a batalha dos estudos (as brasileiras têm em média três anos a mais de escolaridade que os brasileiros), depois a do trabalho (as mulheres avançam lenta, mas inexoravelmente nas empresas). E agora, pasme: estão perdendo até o monopólio da agressividade.

Uma pesquisa de um instituto americano, divulgada pelo New York Times, revestiu com números uma percepção meio disseminada, mas pouco levada a sério: mulheres não se dão bem com chefes mulheres. O instituto é o Workplace Bullying Institute, cujo objetivo é estudar o assédio moral nos ambientes de trabalho. Uma das conclusões da pesquisa, encomendada em 2007, é que 40% dos profissionais agressivos são mulheres.

Com uma peculiaridade: enquanto os homens perseguem indiscriminadamente funcionários de ambos os sexos, as mulheres preferem atacar outras mulheres (em 70% dos casos). É uma estatística alarmante, por dois motivos: 1) Muita gente boa já disse que o século XXI é o século das mulheres no trabalho. Não apenas pela evolução numérica – no Brasil, elas passaram de pouco mais de 20% da força de trabalho, na década de 1970, para mais de 40% hoje – como bem apontam estudos da Fundação Carlos Chagas.

O século seria feminino porque, pelo menos em tese, o mundo caminha para um estilo de gestão mais suave, baseado no diálogo, na intuição, na realização de muitas tarefas ao mesmo tempo, na delegação de poderes –características tipicamente vinculadas às mulheres. Por isso, desde os anos 1990, gurus de renome como o americano Tom Peters clamam que elas é que herdarão o reino dos negócios.

Mas a pesquisa da WBI aponta em outra direção: em vez de suavizar o mercado de trabalho, é plausível acreditar que as mulheres estejam ficando mais agressivas.

2) Para as próprias conquistas femininas, a batalha entre mulheres é um baque. Um dos mantras de organizações que lutam pela igualdade no trabalho é que, quanto mais mulheres chegarem a cargos de comando, melhor. Elas funcionariam como modelos de conduta: se uma mulher “chegou lá”, uma funcionária em começo de carreira tem mais chances de querer chegar lá também. Mas, se a pesquisa for verdadeira, para muitas mulheres ter uma chefe mulher é um obstáculo, não um incentivo. É muito frequente que, em conversas privadas, as mulheres digam que trabalhar com homens é mais fácil.

Algumas que são chefes afirmam que os homens são menos complicados (não têm TPM, discutem menos). Algumas que são subordinadas dizem que mulheres perseguem mais – e muitas vezes, segundo elas, por motivos totalmente alheios ao trabalho.

Em geral, tendemos a não levar esses comentários muito a sério. Ou pelo menos a nos convencer de que são casos isolados. Em parte isso acontece porque a alternativa é politicamente incorreta: ela arranha a imagem de que as mulheres são femininas do modo como gostamos de encarar a feminilidade: por suas características de suavidade, amor, compreensão.

Mesmo sem esquecer que os homens são responsáveis pela maior parcela dos casos de assédio moral, talvez seja hora de rever nossos conceitos sobre feminilidade. Pelo menos no horário de trabalho.